Poderíamos ter passado a tarde visitando os museus e fotografando os casarões centenários de Punta Arenas, mas fiquei terminando dois textos atrasados e lutando contra a internet, que depois do almoço resolveu ficar lerdíssima.
O navio partiu com menos de metade da lotação; os passageiros que já não estavam nas redondezas antes do terremoto (ou, no máximo, em Puerto Montt, na região dos lagos), simplesmente não conseguiram chegar, devido ao fechamento do aeroporto de Santiago.
A programação da perna Chile-Argentina do cruzeiro Australis é um pouco mais relaxada. O navio também parte na hora do jantar, mas não é preciso acordar cedíssimo logo na primeira manhã. O dia inicial é dedicado aos animais marinhos. A primeira parada é na baía Ainsworth, onde descemos numa ilha para ver de perto elefantes-marinhos, parentes dos leões e lobos-marinhos, só que ainda maiores, e com uma minitrompa que nasce numa das narinas. (Para ver mais fotos, leia o post Elefantes-marinhos patagônicos: ai, que sono.)
Na saída da baía, fomos brindados com o primeiro monumento branco do trecho: a geleira Marinelli, bem lindona.
À tarde, mais uma saída para observação de fauna: a circunavegação da ilhota Tucker, onde chegamos pertinho de pingüins-de-magalhães, cormorões e outras aves.
O tema do dia seguinte são as geleiras. Logo depois do almoço descemos para ver de perto a geleira Pia, de dois pontos: à beira d’água e num mirante no alto. Durante nossa estada, vários pedaços de gelo se desprenderam – fazendo um barulho desproporcional às suas dimensões, relativamente pequenas.
É antes do jantar, no entanto, que acontece aquele que para mim é o ponto mais alto de toda a viagem: a passagem pela Avenida das Geleiras. Durante uma hora e meia passamos defronte a cinco geleiras imponentes.
Como a maioria foi batizada com nomes de países – Alemanha, França, Itália, Holanda – a passagem por cada uma delas é comemorada com uma rodada de comida e bebida do lugar em questão: cerveja e salsicha em frente à geleira Alemanha, queijo e champagne em frente à França, pizza e vinho em frente à Itália, croquetes e cerveja em frente à Holanda.
(E jante depois, se for capaz...)
O último dia de navegação é repeteco para quem, como eu, já tinha feito a perna saindo de Ushuaia: Cabo Horn antes do café, baía de Wulaia à tarde. Os raros passageiros que fazem o circuito completo, contudo, dobram sua chance de conseguir descer no Cabo Horn. E foi o que aconteceu com a gente: na perna de volta, ao contrário do que tinha acontecido na ida, havia condições para a descida, e lá fomos nós finalmente pisar no ponto mais austral do continente.
A bateria da minha câmera, porém, continuou achando que o desembarque era uma bobagem, e ficou agarradinha ao carregador, escondido numa tomada atrás da poltrona da cabine. Com isso, só vou poder botar uma foto minha no Cabo Horn quando receber por email a foto que pedi para um passageiro chileno bater. (Enquanto isso, fica aí o carimbo no passaporte que atesta a minha descida no ponto mais meridional do planeta.)
A noite de despedida é especial: é sorteada a bandeira usada na viagem e leiloada a carta de navegação pelo Cabo Horn usada nesta passagem. Na ida a carta de navegação foi arrematada por 100 dólares; na volta, por 250.
O desembarque em Ushuaia no dia seguinte é às 9 da manhã.
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